O hábito de fumar tem cada vez menos adeptos no Brasil. Pesquisa inédita do Ministério da Saúde e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que o índice de pessoas que consomem cigarros e outros produtos derivados do tabaco é 20,5% menor que o registrado cinco anos atrás. Do total de adultos entrevistados, 14,7% disseram que fumam atualmente. Esse índice era 18,5% em 2008, conforme a Pesquisa Especial de Tabagismo do IBGE (PETab).
A PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) apresentada dia 10/12/2014 revela que os homens são os que mais usam produtos do tabaco. Entre a população masculina 19,2% fumam contra 11,2% das mulheres. A faixa etária com maior prevalência é de 40 a 59 anos, com 19,4%, enquanto os jovens de 18 a 24 anos apresentaram a menor taxa, de 10,7%.
“Essa redução de 20% no percentual dos fumantes em cinco anos é importantíssima. Não é uma tendência que se observa quando analisamos o ritmo de queda dos outros países. Isso mostra que a política antifumo no Brasil está tendo um sucesso muito importante. Se considerarmos que temos cerca de 200 mil óbitos por ano relacionados ao tabagismo, isso significa uma perspectiva de economia de recursos, de mais qualidade de vida. Com os dados da pesquisa, vamos poder aperfeiçoar as políticas de prevenção e as políticas que organizam o sistema de atendimento e avançar ainda mais na redução do tabaco e de outros fatores de risco à saúde dos brasileiros”, destacou o ministro da Saúde, Arthur Chioro.
O uso regular do tabaco é maior ainda em pessoas com menor escolaridade. A prevalência naqueles com nível fundamental incompleto é de 20,2%. Já para a população que possui o ensino superior completo é de 8,8%. Preocupa ainda o alto percentual no Sul, cujos três estados lideram o índice de usuários de tabaco e derivados. Paraná registra 18,1% de fumantes, seguido por Santa Catarina (16%) e Rio Grande do Sul (14,2%).
A PNS contabiliza 63 mil entrevistados a partir de 18 anos. É o maior e mais detalhados estudo já realizado sobre a situação de saúde do brasileiro e o estilo de vida. Pela primeira vez, foi coletado sangue, aferida a pressão e as pessoas pesadas. Os dados divulgados são resultados dos questionários aplicados nos domicílios visitados. A análise dos exames será anunciada em 2015.
Abandono do cigarro
A queda do número de fumantes no Brasil é confirmada pelo índice de pessoas que disseram ter fumado no passado, 17,5%. Se os homens são os que mais fumam, são também eles que mais abandonam o vício. Enquanto 21,2% da população masculina entrevistada deixou o consumo de tabaco e derivados, entre as mulheres esse índice foi de 14,1%. Quanto maior a idade, maior o percentual de ex-fumantes: 31% das pessoas com 60 anos ou mais pararam de fumar.
A vontade de parar de fumar atinge ainda mais pessoas. Do total de entrevistados que fumam ou já fumou, 51,1% disseram ter tentado largar o hábito nos últimos 12 meses. Nesse caso, foram as mulheres que mais tentaram deixar o cigarro, atingindo 55,9%, contra 47,9% dos homens.
Outro aspecto positivo foi que 73,1% das pessoas que tentaram parar de fumar conseguiram tratamento, um aumento importante em relação a 2008, quando o índice era de 58,8%. Esse avanço é resultado da universalização do acesso aos medicamentos para tratamento do tabaco na rede pública de saúde. O Ministério da Saúde expandiu a oferta de medicamentos e assistência profissional aqueles que desejam parar de fumar.
Atualmente, estão preparadas para atender a esse público 23.387 equipes de Saúde da Família que atuam em 4.375 municípios. Também são ofertados gratuitamente medicamentos, como adesivos, pastilhas, gomas de mascar e o bupropiona. O Ministério da Saúde destinou R$ 41 milhões para compra dos produtos, o que permitiu tratar 145 mil tabagistas só neste ano.
Lei antifumo
Foi analisado pela pesquisa o índice de pessoas que não fumam, mas estão expostas à fumaça dentro de casa: 10,7% da população. Neste caso, os jovens de 18 a 24 anos são os mais atingidos. No trabalho, o percentual de pessoas que estão sujeitas ao fumo passivo é ainda maior, de 13,5%.
Entre as recentes conquistas no Brasil destaca-se a Lei Antifumo, decreto da presidenta Dilma Rousseff que entrou em vigor em dezembro deste ano. A nova legislação torna os ambientes fechados de uso coletivo 100% livres de tabaco, protegendo a população do fumo passivo e contribuindo para diminuição do tabagismo entre os brasileiros. Em dezembro deste ano, o Ministério da Saúde publicou ainda regras para proteger os trabalhadores expostos ao fumo.
As mudanças da legislação brasileira nos últimos anos, como a proibição de propaganda de marcas de cigarro e inclusão de imagens nos maços alertando os malefícios para a saúde, impactaram positivamente no hábito de fumar. A pesquisa aponta que 52,3% dos fumantes pensaram em parar de fumar devido a estas advertências.
O cigarro é responsável por cerca de 200 mil mortes por ano no Brasil e a Organização Mundial de Saúde reconhece o tabagismo como uma doença epidêmica. A dependência da nicotina expõe os fumantes continuamente a mais de quatro mil substâncias tóxicas, que são fatores de risco para aproximadamente 50 doenças, principalmente as respiratórias e cardiovasculares, além de vários tipos de câncer como o de pulmão e brônquios. O fumo responde hoje por 90% dos casos de câncer de pulmão e 25% das doenças vasculares, como infarto.