Mariana Azevedo Dias, 11, cuida do irmão de 5 meses.
“Vocês vão aprender a salvar vidas”. Com esse incentivo o voluntário e instrutor do HCor (Hospital do Coração) de São Paulo inicia a palestra que vai ensinar crianças de oito a 12 anos a agir diante de uma situação de emergência frequente: a vítima está em situação de parada cardiorrespiratória. A atividade foi realizada dia 25 de maio de 2015, no CEU Vila do Sol, na zona sul de São Paulo, com crianças que muitas vezes têm que ficar sozinhas em casa, sem supervisão de um adulto, enquanto os pais vão trabalhar.
Esse é o caso da estudante Mariana Azevedo Dias, de 11 anos, que tem sopro no coração e que cuida todos os dias, das 11 às 17 horas, do irmãozinho de 5 meses, enquanto os pais estão fora. “Eu gostei muito da atividade de hoje. Eu não tenho mais que tomar remédio por causa do sopro e não tenho nenhuma limitação, então posso olhar meu irmão. Não teria medo de ter que fazer uma massagem cardíaca nele e nem ficaria nervosa.”
A massagem cardíaca deve ser feita em casos de parada cardiorrespiratória, identificável quando a pessoa não está consciente nem respirando. Isso pode acontecer com pessoas de todas as idades, em casos como infarto e até mesmo se ela engasgou com algo. “No caso de crianças, dificilmente elas teriam um infarto, já que pelo pouco tempo de vida há pouco acúmulo de placas de gordura nas veias e artérias”, explica Ana Carolina Buzzo, enfermeira e instrutora do HCor. “Mas temos que considerar a realidade dessas crianças de áreas mais carentes, que muitas vezes começam cedo a fazer uso de drogas como a cocaína. O uso precoce e excessivo dessa droga, por exemplo, pode levar ao infarto mesmo crianças e adolescentes.”
O procedimento ensinado para esses casos requer que a criança verifique se o indivíduo está respirando e se reponde a estímulos simples como tapinhas no ombro. Se não há resposta, a instrução é telefonar — ou pedir para alguém fazê-lo — para o SAMU (192), verificar se o local é seguro (se não há carros transitando próximo, por exemplo) e iniciar a ressuscitação cardiopulmonar (RPC), manobra pela qual se comprime o tórax da vítima com força cerca de 100 vezes por minuto. O ritmo das compressões é o mesmo da música “I like to move it”, que aparece no filme infantil Madagascar e foi usada como exemplo para fixar o aprendizado.
“Muito dificilmente a pessoa irá voltar a ter consciência com a aplicação desse procedimento”, alerta Buzzo. “Vai ser o profissional de saúde que chegar que vai conseguir reanimar a pessoa nesse sentido, com remédios e equipamentos adequados, como o desfibrilador. No entanto, é importantíssimo iniciar a volta da circulação do sangue aos órgãos antes da chegada do socorro.” A cada minuto sem assistência, a chance de sobrevivência diminui 10%.
Como a atividade é voltada para crianças, é dada atenção para alguns problemas comuns quando se trata de crianças e os serviços de emergência. Os instrutores pedem que os novos socorristas ensinem o que aprenderam aos pais e familiares em casa, para que todos possam ter acesso ao conhecimento. E outra mensagem importantíssima tratando de um problema frequente enfrentado pelos serviços de urgência: não passem trotes. Uma vida pode ser perdida enquanto o Samu perde tempo com uma brincadeira de mau gosto.
O projeto é fruto da parceria entre o Hcor e o Instituto Horas da Vida, que tem como objetivo conectar profissionais da saúde e pessoas de baixa renda. O instituto também tem projetos nas áreas de odontologia, nutrição e vacinas. Para saber mais, acesse www.horasdavida.org.br