Quem gosta de consumir bebidas alcoólicas deve ficar atento, pois beber em demasia pode ser perigoso para a saúde do coração. De acordo com a American Heart Association (Associação Norte-americana do Coração, em tradução livre), a ingestão de mais de 540g de álcool por mês eleva o nível de gorduras como triglicérides no sangue e aumenta a pressão arterial. Cada lata de cerveja possui aproximadamente 10g de álcool, ou seja, o limite de consumo seria 1,8 lata por dia. Porém, a comunidade médica considera como limite diário 6g de álcool.
Segundo Luiz Antônio Machado César, diretor da Unidade Clínica de Coronariopatia Crônica do Incor (Instituto do Coração), além da elevação da taxa de gordura, o sódio presente nas bebidas é um outro agravante. As artérias acabam retendo o sal e se contraem, provocando aumento da pressão. “O excesso de bebida alcoólica, ou seja, a ingestão de mais de três doses diárias, destrói diversos órgãos ao longo dos anos, como o pâncreas, o fígado e o coração. O álcool é uma substância calórica. Quando ingerido, é transformado pelo fígado em glicose e gordura. Por isso, diabéticos e pessoas com predisposição à doença devem ficar atentos ao seu consumo.”
Alterações de frequência
Quando a pessoa bebe além da conta, os rins também trabalham mais do que o normal. Basta observar a quantidade de vezes que se vai ao banheiro quando se ingere maiores quantidades de álcool. O organismo procura expelir toxinas da substância pela urina, mas alguns minerais, como magnésio e potássio, acabam sendo eliminados junto. Como eles ajudam a manter os batimentos cardíacos em um ritmo normal, que varia entre 60 e 100 bpm, sua eliminação faz com que a frequência cardíaca aumente.
Segundo o supervisor de cardiologia do HCor (Hospital do Coração de São Paulo), Ricardo Pavanello, como o álcool em grande quantidade também aumenta a frequência cardíaca, o órgão acaba sendo submetido a um círculo vicioso. “Há possibilidade de a pessoa desenvolver alterações no músculo cardíaco que impedem o coração de contrair normalmente. Com o passar do tempo, se o ritmo do consumo permanecer abusivo, podem surgir cansaço excessivo, arritmias e até morte súbita. Embora o fígado seja o órgão mais prejudicado, grande parte dos alcoólicos morre de problemas cardíacos.”
O risco de miocardiopatias alcoólicas tem relação direta com a quantidade de bebida e o tempo de exposição a ela. Com o passar do tempo, o coração vai ficando mais dilatado e com dificuldade de bombear sangue, o que leva a cansaço e dores no peito. Se o indivíduo parar de beber, há chance de recuperação, mas em casos mais avançados o tecido cardíaco normal é substituído por uma fibrose (cicatriz). Nessas circunstâncias, não há mais como o coração se recuperar totalmente, mas é possível impedir a progressão do problema.
Mas nada disso significa que a ingestão de bebidas alcóolicas deve ser vetada. Lembre-se, o problema é o excesso. Pavanello recomenda também cuidado na distribuição do consumo ao longo do mês. “Você pode beber, por exemplo, 20 latas de cerveja por mês, ou uma por dia, mas nunca deixe para beber tudo de uma vez nos finais de semana, pois isso pode levar a uma elevação excessiva da pressão arterial.”
Cada organismo, entretanto, reage de uma forma. Portanto, é importante que todos, especialmente os cardiopatas, perguntem ao médico qual orientação específica em relação ao consumo de álcool eles devem seguir.
Benefícios
Não há consenso na comunidade médica sobre os possíveis efeitos positivos do álcool para a saúde do coração. Alguns estudos indicam que o álcool pode inibir a formação de placas de gorduras nas artérias, reduzindo o risco de obstrução e, consequentemente, de infarto.
Segundo Pavanello, algumas bebidas, como o vinho, atuam no equilíbrio do colesterol. Uma taça no almoço e outra no jantar podem ajudar a aumentar o nível de “bom” colesterol (HDL). “O vinho contém flavonoides, componentes que atuam como um poderoso antioxidante protetor do coração. Eles agem diretamente no fígado, inibindo a síntese de colesterol. Mas como grande parte das pessoas não segue corretamente as orientações sobre consumo de álcool, o ideal é recomendar atividades físicas e controle do peso e da pressão arterial, em vez de incentivar o consumo de álcool”.